Tornar o ambiente de
convivência da criança repleto de atos de leitura e escrita, de forma a
inseri-la desde cedo no mundo das letras é uma excelente maneira de ajudar seu
filho na alfabetização. Em suma, deixar o ambiente doméstico mais alfabetizador.
Isso acontece quando, por exemplo, a mãe deixa bilhetinhos na porta da
geladeira, apontando a finalidade do ato para a criança: vamos deixar esse
recadinho para o papai avisando-o que iremos nos atrasar para o jantar. Ou
quando, antes de começar um novo jogo (de tabuleiro, por exemplo), ela propõe
ao filho que eles leiam as regras juntos, ler e preparar juntos uma receita,
etc.
Quando a criança é inserida nessas atividades rotineiras, ela acaba percebendo a função real da escrita e da leitura, e como elas são importantes para a nossa vida. E, dada sua curiosidade nata, ela vai querer participar cada vez mais e buscar o conhecimento dos pais.
Quando a criança é inserida nessas atividades rotineiras, ela acaba percebendo a função real da escrita e da leitura, e como elas são importantes para a nossa vida. E, dada sua curiosidade nata, ela vai querer participar cada vez mais e buscar o conhecimento dos pais.
A criança que cresce em
constante contato com a leitura e a escrita acaba se apropriando da língua
escrita de maneira mais autoral e adquirindo experiências que vão fazer a
diferença na hora de ela aprender a ler e a escrever efetivamente.
Abaixo
destacamos 10
maneiras de deixar o ambiente de sua casa mais alfabetizador, ajudando seu filho a passar com tranquilidade pela
alfabetização o que, aliás, é fundamental para ele ter sucesso nas etapas
futuras do aprendizado e do conhecimento.
1.
Deixar bilhetes ou escrever cartas:
Que outra função tão
importante tem a escrita que não a de comunicar? Pois desde bem cedo a criança
pode perceber isso, pelas atitudes dos pais. Deixe recadinhos na porta da
geladeira, escreva cartas e estimule-a a fazer o mesmo (mesmo que saiam apenas
rabiscos. Lembre-se: nessa fase do desenvolvimento, não se erra, se tenta
acertar). Pode-se escrever cartas para os familiares, mandar mensagens pelo
facebook ou whatsapp e questionar a criança qual recado ela quer mandar. Quando
receber uma carta ou uma mensagem que envolva a família, leia em voz alta.
Procure incluir a criança sempre que uma situação de comunicação escrita se
apresentar na casa.
2.
Preparar receitas culinárias na presença da
criança:
Num ambiente alfabetizador,
é importante que a família chame a criança, desde muito cedo, para participar
de algumas ações, de forma que ela presencie o contato com a língua escrita,
percebendo suas várias funções. Na culinária isso pode acontecer de maneira
descontraída e divertida. Durante a receita de um bolo, por exemplo, vá
perguntando para a criança: "Vamos ver o que falta colocar? Ah, ainda
preciso colocar 3 ovos, está escrito aqui".
3.
Ler histórias:
Ler para a criança pequena
tem muitos benefícios e, num ambiente alfabetizador, é a primeira exigência a
ser feita, pois é por meio de pais e professores que a criança passa a ter
contato com a língua escrita. Quando a mãe lê uma história para a criança, ela
é leitora junto com a mãe. Leia com frequência para seu filho: gibis, revistas,
contos de fadas... Leia mais de uma vez o mesmo livro, pois isso é importante
para a criança começar a recontar aquela história depois, no papel de leitora,
inclusive passando as páginas do livro corretamente.
O que pouca gente lembra é
que o ato de leitura deve começar muito cedo, com crianças que ainda estão
longe de serem alfabetizadas. É assim que os pequenos vão percebendo a relação
entre as linguagens oral e falada; vão identificando as várias funções da
escrita, para que serve cada gênero textual; e vão se tornando leitores e
escritores. Ao ouvir histórias, a criança acaba percebendo que a leitura é
feita da esquerda para a direita (importante para o momento em que ela vai
começar a riscar), consegue diferenciar o que é texto do que é desenho, começa
a notar que as palavras são escritas separadamente formando frases que fazem
sentido e a adquirir noção de volume de texto. É comum, por exemplo, a criança
perceber quando a mãe está pulando trechos da história (geralmente porque ela
já está cansada e quer dar uma resumida na historinha). A criança vira e fala
tem mais coisa aí, mamãe. Isso mostra que ela está já está amadurecendo como
leitora e, embora ainda não leia, já faz o que chamamos de pseudoleitura.
4.
Ser um modelo de leitor:
Essa é a premissa mais
básica de qualquer ambiente alfabetizador. A criança forma valores a partir de
bons modelos e, assim, ter pais leitores é fundamental para ela aderir à
leitura. Estante de livro não pode parecer santuário. As crianças têm de
observar que os pais estão sempre mexendo ali, escolhendo um livro, lendo-o e
comentando-o com a família. E não apenas os livros. A leitura de revistas e
jornais também tem de ser um hábito dos pais.
Os pais também têm de
prestar atenção ao ambiente em que fazem sua leitura, passando a impressão de
que ler é prazeroso, mas também é coisa séria. O ambiente deve ser tranquilo,
sem muitos ruídos, com boa iluminação, e deve-se sentar com a postura corporal
correta, para não se cansar rapidamente.
* Para saber
mais sobre como montar um cantinho da leitura na sua casa, acesse:
http://construindooaprender-psicopedagogia.blogspot.com.br/2016/04/saiba-como-estimular-o-seu-filho.html
5.
Explorar rótulos de embalagem:
Alguns produtos são
recorrentes na dispensa de nossas casas e as crianças acabam se acostumando com
a presença deles. Aproveite momentos de descontração, como durante as
refeições, para ler os rótulos junto com seu filho. Com o tempo, ele começa a
ler por imagem, por associação. Ele pode ainda não estar alfabetizado, mas já
sabe o que está escrito naquela embalagem. Os rótulos são interessantes de
serem lidos porque, na maioria dos casos, são escritos em letra CAIXA ALTA, que
é a qual a criança assimila antes da letra cursiva (letra de mão).
6.
Fazer listas de compras com seu filho:
Esta aí uma tarefa pra lá de
corriqueira: fazer a lista de compras do supermercado. Num ambiente
alfabetizador, o momento pode ser aproveitado: chame a criança para preencher a
lista com você e faça com que ela perceba que você anota no papel as coisas que
irá comprar, para consultar lá no mercado (uma forma de ela relacionar a
linguagem oral com a escrita). Vá conversando com ela: "Vamos anotar para
não esquecer. O que mais vamos ter de comprar? Então, vamos escrever
aqui". Deixe que ela acompanhe com os olhos o que você está escrevendo e
vá falando em voz alta.
7.
Explorar o mundo letrado:
Placas de trânsito, destino
de ônibus, outdoors, letreiros, panfletos, faixas... Onde quer que frequentemos
estaremos sempre em contato com o mundo letrado e é ótimo que os diferentes
elementos sejam aproveitados com a criança. Dá para levar em forma de brincadeira.
'Olha filho, tem uma placa igual a essa em frente à nossa casa. Sabe o que está
escrito nela?', ou ainda 'Olha, filho, esse ônibus vai para Tatuapé. Tatuapé
também começa com Ta, igual o nome da titia, Tatiana'. É por meio dessas
situações que a criança vai percebendo as diferentes funções da escrita e
fazendo associações. É uma forma não de ensinar/aprender, mas de brincar com as
letras, com as palavras, com a escrita e a leitura. Além disso, brinquedinhos
com palavras e números, calendários, jogos de computador, álbum de fotografia
com legendas, scrapbook, tudo isso pode estar no ambiente de convivência da
criança, porém desde que realmente sejam usados por ela, e não funcionem como
meros enfeites do seu quarto. A criança tem de perceber a função de cada um dos
elementos que é posto para ela, portanto, quando for montar um álbum com fotos
de uma viagem, chame a criança para legendar cada foto com você. "Você
lembra como se chamava este lugar? Vamos escrever aqui para não
esquecermos".
8. Fazer convites de aniversário com a criança:
Escrever nos convitinhos de
aniversário é uma etapa da festa da qual a criança precisa participar. Pergunte
a ela: "o que teremos de escrever nos convites? Precisamos dizer onde vai
ser e a que horas". Isso pode ser feito desde o primeiro aniversário da
criança, repetindo nos anos seguintes, até chegar a vez em que ela própria irá
querer escrever sozinha, com sua letrinha, ou mesmo digitar.
Outra atitude interessante é
escrever cartões de aniversário ou de casamento na frente da criança.
"Esses nossos amigos irão se casar. Vamos escrever uma mensagem a eles
para enviar junto com o presente?". A situação pode ser corriqueira para
você, mas para a criança tudo é novidade. Participe-a desses momentos. Nos
aniversários das pessoas da família, incentive-a a escrever algum cartão, mesmo
que ela faça apenas desenhos. Pergunte que mensagem ela quis passar e em
seguida faça um elogio ao seu trabalho.
9.
Explorar a agenda telefônica:
A agenda telefônica é um bom
objeto a ser explorado com as crianças. Ela mostra, claramente, o que é texto e
o que é número, com a função de cada um deles. O texto é usado para escrever o
nome das pessoas ou dos lugares, enquanto o número é utilizado para informar o
telefone. No dia a dia, chame a criança para observar essa diferença.
"Olha filho, deste lado ficam os nomes das pessoas e deste o número do
telefone delas. Vamos ver qual o número da casa da vovó?".
10.
Respeitar o ritmo da criança:
Sabe o que mais pode ajudar
na alfabetização de seu filho? Compreender o seu ritmo! Isso mesmo. Investir no
ambiente alfabetizador é importante para que as crianças ganhem mais intimidade
com a língua escrita (e dessa forma encontrem menos dificuldade quando
estiverem aprendendo a ler a escrever), mas isso não quer dizer que o processo
será, necessariamente, acelerado, e é importante que os pais tenham isso em
mente. Lembre-se: começar a ler e a escrever mais tardiamente não representa
problema de aprendizagem ou falta de inteligência. Na maioria dos casos,
significa apenas que a criança ainda não atingiu um nível necessário de
maturidade. A criança fica um tempo absorvendo muita informação e de repente dá
aquele “click”, mostrando que conseguiu entender o processo. É literalmente um
'click', mas que acontece em momentos diferentes para cada criança.
* O
que é um ambiente alfabetizador?
A partir das investigações das educadoras Emília Ferreiro e
Ana Teberosky, apresentadas no livro Psicogênese da Língua Escrita, vários
pesquisadores da área começaram a construir uma nova didática da alfabetização,
chegando ao conceito de ambiente alfabetizador. No começo, houve interpretações
errôneas, e professores começaram a colocar nomes nas coisas, como etiqueta com
a palavra lousa na lousa, etiqueta com a palavra mesa na mesa, supondo ser
assim um ambiente alfabetizador. Com as pesquisas que se seguiram, concluiu-se
que um ambiente alfabetizador não somente é aquele que contém material escrito,
mas aquele em que diversos gêneros textuais estão presentes e sendo usados,
dentro de uma função comunicativa.